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Autor: Helena Krüger
14 de Mar de 2025
90% dos indígenas Avá-Guarani estão em situação de insegurança alimentar no oeste do Paraná, aponta estudo
6-8 minutos
O número consta no resultado preliminar de um estudo social feito pelo Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial da Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR). O g1 Paraná e RPC tiveram o com exclusividade aos dados.
O estudo aponta que a renda dos indígenas não garante a alimentação durante todo o mês. Segundo o Núcleo, essa situação obriga os indígenas a diminuir o número de refeições ao longo do mês, com isso, a maioria das famílias faz apenas uma refeição por dia.
A pesquisa foi desenvolvida por uma equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais, assessores jurídicos e defensores públicos, que foram até a comunidade depois de uma série de ataques violentos sofridos pelos indígenas da região nos últimos anos em disputa de terras com fazendeiros.
Estante com poucos alimentos na comunidade indígena Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
Estante com poucos alimentos na comunidade indígena Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
A defensora pública Camille Vieira da Costa explica que a motivação inicial da pesquisa foi verificar as questões de segurança da comunidade, mas, após a visita, identificaram outros pontos tão urgentes quanto e que não estavam sendo cumpridos na saúde, educação, moradia e emprego e renda.
A Defensoria Pública do Paraná ouviu 67 famílias na aldeia Yvy Okaju, em Guaíra.
"A gente verificou que muito além da questão da segurança, que é muito importante é uma questão de vulnerabilidade social. A ausência quase que completa de políticas públicas para garantir, por exemplo, a alimentação".
Comunidade indígena Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
Saúde
Na saúde, o órgão identificou que cinco pessoas estavam com balas alojadas no corpo durante a visita. Eles também identificaram que a maioria das pessoas ouvidas relatou ter sido afetada psicologicamente pelos ataques.
No questionário, eles responderam que gostariam de receber um atendimento psicológico.
Os indígenas também informaram que a discriminação e preconceito que sofrem afastam a aldeia da atenção básica de saúde.
Comunidade indígena Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
Emprego e renda
De acordo com o mapeamento, a maioria dos indígenas trabalham em empregos temporários, como em colheitas ou outros trabalhos informais; e uma minoria recebe entre R$ 1,5 mil a R$ 2 mil.
Comunidade indígena Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
Educação
Na educação, o estudo identificou que há apenas uma escola na parte antiga da aldeia, com dois professores, o que é insuficiente para a quantidade de estudantes, na avaliação da DPE.
A maioria dos alunos está matriculado em escolas e colégios não-indígenas. Também há relatos de discriminação e preconceito.
Moradia
Sobre a moradia, o mapeamento levantou que a maioria das casas possui um dormitório para toda a família, sem o à água encanada. Também não há banheiros.
Banheiro na comunidade Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
Atuação após o estudo
O estudo social foi desenvolvido para mapear as principais vulnerabilidades e nortear a ação do Núcleo da Defensoria para pleitear pedidos para que as políticas públicas cheguem na aldeia.
Mesmo com dados preliminares, o estudo já realizou algumas ações pontuais.
Em relação à saúde, a defensoria oficiou o Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde sobre os indígenas que ainda estavam com balas alojadas no corpo. Após a intervenção, um indígena de 14 anos teve a bala retirada. Os demais devem ser atendidos em breve.
O assessor jurídico Dieikson Braian Ribeiro esclarece que também houve comunicação com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI).
"Após reunião com o órgão, foi acordado que será elaborado um plano de trabalho para atender à situação de saúde mental, especialmente para as crianças. Durante nossa visita, conseguimos identificar que muitas delas estão sofrendo com o medo", contou o assessor.
Comunidade indígena Avá-Guarani - Foto: Daniel Caron/DICOMDPE-PR
Ele também destaca que a defensoria tem atuado como uma ponte entre os órgãos públicos e a comunidade, buscando garantir a implementação das políticas públicas na região, enquanto a questão fundiária não é resolvida.
"Um dos principais objetivos da defensoria lá é ouvir a comunidade, entender a complexidade dos problemas enfrentados pelos indígenas e levar essas questões ao conhecimento de outras instituições", explicou.
Além do estudo social, o órgão está realizando, em parceria com a Defensoria Pública da União, um mapeamento das ações judiciais que tramitam na Justiça Federal envolvendo as comunidades.
"Observamos que, em alguns casos, o direito já foi reconhecido pela justiça, como no caso da educação, mas na prática ainda não foi implementado", concluiu.
O que diz a Funai
Em nota, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) informou que o órgão atende os indígenas de toda a região do oeste paranaense, em mais de 30 aldeias em seis municípios, e que a unidade local atua na promoção de direitos sociais para garantir desde o o a documentação civil básica, até benefícios sociais.
A nota afirma que "não há como negar que existe um quadro generalizado de dificuldades socioeconômicas enfrentadas pelas comunidades da região, sobretudo em comunidades como Guaíra e Terra Roxa. Ainda assim, existem muitas ações por parte do poder público local em favor do o à políticas públicas e da segurança alimentar. A Funai auxilia na distribuição de cestas básicas adquiridas pelo Ministério da Cidadania."
https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2025/03/14/90percent-dos…
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